JORGES

Por Ed Santos

Quando nasceu, sua mãe botou o nome de Alberto. Normal e pacata a vida do menino que não teve médico a dar-lhe palmadas na bunda. O bairro simples e humilde era longe do mais próximo hospital público. Dona Albertina foi quem ajudou sua avó e sua mãe na “boa hora”. A tal parteira tinha mais de cem meninos nas costas.

Infância remelenta, tampão do dedão sempre arrancado nas inúmeras peladas de rua. Na adolescência o maior presente foi um rádio FM. Adorava música. O pai vez por outra, nas festas de família puxava a parceira pra cá, dava uns giros pra lá, e o menino delirava.

Seu melhor amigo, nesta fase da vida era o Jorge. Não tinha explicação a amizade dos dois, a não ser a idade e o fato de morarem na mesma rua. Mas por que logo o Jorge, se na mesma rua havia outro Jorge, em pouco mais velho que o outro? O Jorge mais velho não jogava futebol como o outro. O outro era melhor e o Beto vivia disputando com ele quem era o melhor jogador da rua. Chegaram até a jogar juntos na categoria dente de leite de um time profissional, até o dia em que o pai do Beto disse que a hora de trabalhar tinha chegado, e o futebol ficou pra traz.

Beto teve poucos empregos e em alguns, teve amigos. Mas os mais chegados foram só dois. Dois Jorges. Nunca havia parado pra pensar nisso, se deu conta quando num papo de botequim, lembrou que das duas vezes que fora padrinho de casamento, os afilhados foram os Jorges.

Como o tempo passa e a rotina das pessoas segue como corredeiras, Beto vez por outra vê um dos Jorges, mas muito pouco, o que o levou então ao passado e recordou de outro amigo que teve. Mas que não chamava Jorge. Alberto tinha conhecido Norberto no ginásio, quando tinha 13 aos. Sentavam-se um do lado do outro. Regra da escola. Pegavam a mesma condução e moravam no mesmo bairro. A vida de ambos tomou rumos diferentes e se distanciaram.

Após cinco anos reencontraram-se numa outra sala de aula e selaram a eterna amizade. Só pra se ter uma idéia da grandeza da amizade entre os dois, namoravam a mesma menina, ao mesmo tempo. O triangulo era um símbolo da amizade dos dois. Dos três.

Norberto foi-se, virou lembrança. Beto ficou e eternizou o amigo em dedicatória. Talvez se fosse Jorge, pelo menos, viveria. Esquecido.

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1 Comentários

gustavocarmo disse…
Amigo de infância é até compreensível que se perca com o tempo. O problema é aquele amigo já da fase adulta que estava sempre ao seu lado, jurava amizade e de repente some, Não porque vc não procura, mas porque não te retorna.