DO NADA À LUGAR NENHUM

Por Ed Santos

O cara sai lá do interior do país, larga tudo pra trás. Deixa casa, família, história e vai pra cidade grande tentar a sorte. Não é tão fácil e simples assim ele sabe disso, e seu coração se esconde atrás da máscara que foi obrigado a vestir para encarar tudo. É o baile da vida que começou!

Os obstáculos não deixam de fazem parte, e cada caminhada parece uma prova de atletismo valendo medalha. Eita ouro difícil de se conseguir! Aqui essa história de “o importante é competir”, é pura balela. Se não ganhar, óbvio, perdeu. E o matuto até agora não ganhou nada infelizmente.

Ele peregrinou por todos os lados, atravessou da periferia até o lado norte da cidade e por muitas vezes, de lá, viu o sol se por. Pelo menos uma coisa boa.

Catava latinha, papelão, garrafa pet e enquanto esperava por uma vaga no cortiço em frente, contemplava o entardecer e se virava pela calçada mesmo. Um dia depois de várias viagens com o seu possante carrinho de mão com roda de ferro enferrujado, deitou-se na grama de uma praça no centro. Ruas movimentadas e iluminação densa. Passou por ali um infeliz, e o assaltou friamente. Nem pra procurar quem realmente tem dinheiro, o infeliz. Foi no mais fácil, aquele que não poderia reagir a esta deprimente abordagem social. Os doze contos que tinha no bolso furado da calça surrada e suja de óleo, foram surrupiados. Paciência.

O matuto, caboclo, tabaréu, sentiu-se com falta de ardor, e deixou-se cair em prantos pelos cantos da cidade. Não sorria mais ao conseguir recolher do chão uma latinha de cerveja jogada pela janela do carro amarelo parado no farol, muito menos sentia-se feliz em recolher as garrafas pet que boiavam no córrego que passava por detrás do cortiço tão imponente, e que transformou-se em seu alojamento fixo, desde então.

Depois do tombo, ele conseguiu se restabelecer, e voltou a sorrir diante de suas catanças, mas logo veio outra. O quarto úmido que dormia, habitava um mosquito, por nome Aedes sei lá o que. A doença instalou-se e a convalescença teimava em não acontecer.

Morreu o matuto. Apesar de breve, houve luto no cortiço. Das esquinas continuam sendo surrupiadas as latinhas, e dos bueiros, as garrafas pet pelo menos. A cidade agradece, mas sente falta do matuto, caboclo, tabaréu que não pulsa mais pelas vias, que ninguém sabe onde está e que não fará falta alguma, a não ser para um mosquito.

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